Depois de um giro por Zurique e de conhecer as encantadoras cidades de St. Gallen e Lucerna em um bate e volta, é chegada a hora de percorrer ainda mais o interior da Suíça, país que me surpreendeu – e continua me surpreendendo – nos mínimos detalhes.
Com uma densa malha ferroviária que engloba mais de cinco mil quilômetros, é fácil se locomover pelo país inteiro sem complicações. Se reunirmos todas as cenas que fiz dentro de um vagão para a quinta temporada do CNN Viagem & Gastronomia teremos um programa inteiro apenas dentro de trens!
Mas as vantagens não terminam por aí: o caminho por si só já é um presente, em que nos deparamos com picos nevados, lagos estrategicamente posicionados entre montanhas e vilarejos pitorescos com pouquíssimos habitantes.
E tudo isso fica ainda mais intenso com a passagem por destinos tipicamente associados ao inverno, como Engelberg e Interlaken, conhecidos por suas montanhas nevadas e por ganharem agito extra na temporada de baixas temperaturas.
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Swiss Pass Travel: bilhete tudo em um
Como tudo pode ser feito através de trens, a saga pela Suíça é melhor aproveitada por nós viajantes com auxílio do Swiss Pass Travel. É um único bilhete que nos dá direito ilimitado para locomoção em trens, ônibus e barcos para períodos de 3, 4, 6, 8 ou 15 dias consecutivos.
O passe é uma mão na roda para aqueles que querem conhecer grande parte do país, em que nos concede ainda entrada em mais de 500 museus e até viagens em alguns trens panorâmicos.
Daniela Filomeno em trem pelo interior da Suíça / CNN Viagem & Gastronomia
Os preços se iniciam em 232 francos suíços (cerca de R$ 1.270) e ainda há desconto para jovens com menos de 25 anos. Existe também a modalidade família, em que crianças menores de 16 anos viajam gratuitamente em companhia de pelo menos um dos pais.
Engelberg, aos pés da montanha Titlis
Com o Swiss Pass Travel em mãos, minha viagem pela Suíça para o CNN Viagem & Gastronomia continuou para Engelberg, vilarejo na Suíça Central a apenas uma hora de trem de Lucerna que é muito visado no inverno, mas que não deixa nada a desejar nas outras estações.
Prova disso é que visitei a localidade no começo do outono e fui recebida com chuva, frio e neblina, fatores que não me desanimaram de subir os mais de três mil metros de altitude do Monte Titlis e experimentar todo seu aparato turístico e de entretenimento.
Com 3.239 metros, o Monte Titlis é a principal atração a partir de Engelberg e é o único glaciar no centro da Suíça, além do único que acessamos por meio de teleférico. O Titlis Rotair é, inclusive, o primeiro teleférico giratório do mundo, em que desfrutamos de vistas 360° em um trajeto que nos leva a mais de três mil metros em apenas meia hora.
Conhecido por ter neve o ano inteiro, o Titlis não é apenas sinônimo de esqui: ele nos oferece uma série de atividades e passeios gratuitos imperdíveis que vão da mais alta ponte suspensa da Europa até uma passagem por caverna de gelo de mais de cinco mil anos.
A começar, depois do passeio de teleférico, literalmente adentramos o coração do Titlis em uma caverna glacial iluminada por uma luz azul. A passagem de 150 metros de extensão é formada por gelo que data de cinco mil anos – a temperatura aqui chega a -1,5˚C.
Depois da passagem congelante, a 3.041 metros acima do nível do mar e a 500 metros do chão, a Cliff Walk detém o recorde de ponte suspensa mais alta da Europa. No alto do cume, a ponte tem apenas um metro de largura e mais de 100 de comprimento, em que as vistas para baixo – em dias sem muita neblina – nos deixam arrepiados.
Para vistas ainda mais privilegiadas do entorno, tente o Ice Flyer, teleférico aberto que passa por cima de campos de neve cristalinos. No inverno, ele nos leva até as pistas de esqui no pico, já no verão nos transporta para o parque glacial, local em que é possível descer a pista em cima de pneus e boias de borracha.
Se a sede ou a fome baterem, o local também conta com restaurante panorâmico e bar de sorvetes.
Lá embaixo, aos pés da montanha, o novíssimo Kempinski Palace Engelberg foi minha base durante os dias que passei no vilarejo. Para mim, foi o hotel mais incrível que me hospedei na Suíça, levando em conta serviço, gastronomia e estrutura.
Primeiro hotel cinco estrelas na vila, ele mistura a construção da Belle Époque com toques do luxo contemporâneo em suas 129 acomodações. O spa, no último andar, tem vistas impressionantes para as montanhas.
A piscina aquecida e a lareira no bar nos mantém quentinhos, assim como o restaurante Cattani que tem comida saborosíssima e ao mesmo tempo sofisticada – como a carne de cervo cozida por várias horas que experimentei.
E por que visitar Engelberg em outra época além do inverno? “Temos provavelmente uma das mais bonitas silhuetas de montanhas ao redor. Quando você vem para cá, você está vindo a um destino sem trânsito”, conta um pouco Andreas Magnus, gerente geral do hotel.
No meio do caminho, um vilarejo pitoresco
Após Engelberg, a estância de esqui Interlaken era o destino. A bordo de um trem com janelões panorâmicos, a viagem de três horas se tornou ainda mais especial com as paisagens do lado de fora.
Mas no meio do caminho, um lago esmeralda com montanhas verdes chamou minha atenção e da equipe do programa. A ideia? Descer na próxima parada e descobrir as maravilhas dos arredores.
Uma das vantagens da viagem de trem – e também da Suíça – é essa: poder deixar a intuição nos guiar e conhecer pontinhos deslumbrantes mesmo que sem uma pesquisa prévia. Com esta alma aventureira, descobrimos onde estávamos: Lungern, comuna de cerca dois mil habitantes na metade do caminho entre Lucerna e Interlaken.
É um vilarejo de uma rua debruçado no lago de mesmo nome, com uma cor verde-esmeralda que brilha os olhos. Intocado, o local é daqueles que fazem a viagem valer ainda mais. No verão, trilhas e caminhadas são as pedidas pelos arredores.
Na data da visita, um burburinho na estação de trem chamou minha atenção. Dei de cara com uma Maria Fumaça da década de 1920 que iria sair em sua primeira viagem após ter ficado 59 anos parada. A alegria estava no ar e o espírito aventureiro também.
Interlaken, caminho para o “topo da Europa”
Já em Interlaken, uma das mais populares estâncias de esqui da Europa, tomei outro trem e fui para Grindelwald, comuna próxima à montanha Jungfrau que nos proporciona uma verdadeira experiência alpina, com casas de montanha de madeira que fazem as vezes de hotel.
Além de Grindelwald, Interlaken é também ponto de partida para outras regiões de montanhas ao redor, que somam mais de 200 km de pistas de esqui para todos os níveis de dificuldade.
Pistas para trenós, trilhas invernais, saltos de paraglider, pesca e patinação no gelo também formam a programação para aqueles que não desejam somente esquiar – o verão também atrai amantes de atividades ao ar livre, já que as paisagens dão lugar a atividades como trekking, mountain bike e escaladas.
Vale dizer ainda que Interlaken é a base para o trio de montanhas Eiger, Mönch e Jungfrau, esta última também na lista de patrimônios naturais da UNESCO.
No topo da Jungfrau fica a Jungfraujoch, conhecida como o “topo da Europa“. A alcunha não é por acaso: corresponde à parada e à estação ferroviária mais altas de toda a Europa. O trajeto, diga-se de passagem, é fabuloso, em que contemplamos paisagens montanhosas cobertas de neve e penhascos afiados.
Na estação há um mirante para as montanhas e para o maior glaciar dos Alpes, o Aletsch, de 22 km de extensão e 800 metros de profundidade. O local também é o lar de uma estação de estudos climáticos e um verdadeiro complexo de entretenimento na neve – que aparece o ano inteiro por aqui.
É impressionante a quantidade de atrações. De tirolesa com direito a “pouso” na neve, fui até ao ice bar, em que podemos degustar um uísque local que fica sete anos nas barricas daqui – dadas as baixas temperaturas, a bebida tende a ficar mais leve. O mesmo ocorre com o vinho, feito nos mesmos moldes em meio ao gelo.
Mas não é apenas a Jungfrau que nos deixa extasiados: há uma outra montanha na região chamada First, que se destaca por passarelas vazadas para que consigamos, lá de cima, ter uma visão das alturas.
O topo do First fica a 2.168 metros, em que pegamos um teleférico e subimos até uma base. De lá, há um caminho de passarelas, em que olhamos o infinito e o além.
Para além das grandes altitudes e a engenharia que nos leva até os mais altos picos das montanhas, o aprendizado que fica é não se assustar com o tempo: sua inconstância, com o abre e fecha do céu, pode resultar em momentos incríveis.
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