Não é todo dia que é possível visitar dois países numa mesma tarde, mas em Saint Martin (ilha de São Martinho, em Português), passar da Holanda para a França em poucos minutos é tarefa fácil.
Isso porque a pequena ilha caribenha de pouco mais de 95 km² é dividida em dois países independentes.
St. Martin, no norte, é francês e corresponde a uma coletividade ultramarina da República da França; já St. Maarten, no sul, é holandês, sendo um país do Reino dos Países Baixos.
Apesar das diferenças relacionadas às línguas, culturas, oferta de hotéis e vida noturna, ambos os territórios comungam de uma mesma maravilha: as águas cristalinas do mar do Caribe, que aqui ganham tons de azul turquesa ainda mais especiais.
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Os turistas, a maioria norte-americanos, franceses, holandeses e de outros cantos da Europa, procuram Saint Martin principalmente quando o frio dá as caras no Hemisfério Norte.
Eles trocam os casacos por sungas e biquínis de novembro até o começo de abril, a alta temporada. Mas não se preocupe, pois independente da época, a ilha registra entre 25°C e 32°C o ano todo.
Vizinha de Anguilla, ilha menos agitada e refúgio de celebridades, Saint Martin pode ser acessada pelos brasileiros via conexão no Panamá – trajeto mais comum e que desembarca no Aeroporto Internacional Princesa Juliana, uma atração à parte.
A chegada
Pousar em Saint Martin já é uma experiência por si só. Principal porta de entrada para a ilha, o Aeroporto Internacional Princesa Juliana (SXM) figura nas listas dos aeroportos mais famosos e peculiares do mundo.
O motivo? A pista fica a pouquíssimos metros da areia da praia.
Todos os dias, turistas se agrupam em Maho Beach para testemunhar de perto os grandes aviões que aterrissam a poucos metros de suas cabeças, ou ainda experimentar as fortes rajadas de vento causadas pelos motores a jato na hora da decolagem.
Avião aterrissa no Aeroporto Internacional Princesa Juliana; pista fica à beira da praia de Maho, em St Maarten / Saulo Tafarelo
Tanto o aeroporto como Maho Beach ficam no lado holandês da ilha, sendo a praia um dos pontos turísticos imprescindíveis no roteiro – afinal, quem não fica seduzido a tirar uma foto para lá de instagramável com águas cristalinas ao fundo e enormes aviões ao centro?
Vale ressaltar que o lado francês também possui um aeroporto, o Grand Case-Espérance Airport, mas que é muito menor e opera voos regionais para outras ilhas.
Lado francês X holandês
Fato interessante é que, diferente de outros países do mundo, a fronteira entre os dois lados é apenas simbólica, ou seja, não há controle militar nem aduaneiro na linha que separa os territórios.
Não muito longe do aeroporto Princesa Juliana, um pequeno obelisco de 1948 é a construção que simboliza a divisão entre as áreas, onde bandeiras da França e da Holanda ficam hasteadas em suas devidas marcações.
Uma linha na estrada ajuda a dar a dimensão de qual lado é qual e é oportunidade única de pisar em dois países ao mesmo tempo.
As diferenças entre os dois lados, porém, não param por aí.
Enquanto o lado holandês é conhecido por abrigar uma vida noturna agitada, com bares, clubes e entretenimento para maiores de idade, o lado francês leva fama por ser o refúgio gastronômico da ilha, em que é lar de cerca de 150 restaurantes.
Além disso, as diferenças arquitetônicas são notáveis: enquanto St. Maarten possui prédios e grandes resorts, St. Martin reserva construções menores e hotéis que variam entre 30 a 40 acomodações.
A capital e maior cidade da parte francesa é Marigot, conhecida por seu centrinho com marina charmosa, lojinhas, restaurantes e onde a língua francesa é dominante junto ao inglês.
As outras localidades não são consideradas propriamente como cidades, mas sim como vilarejos e regiões.
O mesmo vale para a porção holandesa, que tem Philipsburg como capital e onde se fala mais o inglês, apesar da língua oficial ser o neerlandês.
De fato, com seus resorts e cassinos, nota-se que este lado da ilha seja mais “americanizado” que o outro
Aqui também fica o porto, onde grandes transatlânticos de passagem pelo Caribe atracam e abrem as portas para turistas conhecerem a ilha por um dia, os quais se animam também com as lojas duty free, ou seja, que não cobram certos impostos.
Enquanto 35 mil pessoas vivem no território francês, o lado holandês contabiliza aproximadamente 40 mil indivíduos. Mais de 120 nacionalidades convivem na ilha, fazendo deste pequeno pedaço de terra um verdadeiro caldeirão cultural.
E mesmo hospedado de um lado, explorar o outro é quase obrigatório. Se isso está nos seus planos, alugar um carro então é indispensável.
Isso porque, além de ser mais em conta para o turista, o transporte público não dá conta do recado e tudo depende da locomoção terrestre – em que uma única estrada corta praticamente toda a ilha.
Mas fique atento, pois mesmo numa área diminuta, o trânsito se faz presente nos horários de pico, principalmente nas entradas e saídas do trabalho e das escolas.
Em relação ao dinheiro, o euro é a moeda oficial do lado francês enquanto o florim é a moeda do lado holandês, mas o dólar, usado aqui de um para um para o euro, é aceito em toda a ilha.
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Bon appétit: França e Caribe no prato
A gastronomia encontra eco em St. Martin, porção francesa, onde pratos clássicos do país europeu são apreciados em restaurantes mais sofisticados, leia-se sopa de cebola gratinada, tartare, lagosta, escargot, foie gras e crêpe suzette, por exemplo.
Já a alma caribenha aparece nas casas mais populares e tradicionais com herança crioula, em que pratos saborosos utilizando peixes, frutos do mar, arroz e grãos são vendidos a preços mais acessíveis.
Segundo Leo Saintil, chef executivo do Villa Royale, restaurante na região de Grand Case que serve comidas caribenhas com toques franceses, a cozinha crioula trabalha com o mar e a terra.
É uma cozinha de tempero e sabor, essa é a base de tudo. Trabalhamos muito com peixes, assim como frangos e carnes. Pimentas, cebolinha, salsa e cebolas são ingredientes principais e também bases do tempero crioulo
Leo Saintil, chef do restaurante Villa Royale em St. Martin
Tais sabores podem ser conferidos nos lolos, barraquinhas locais geralmente enfileiradas, com mesas e cadeiras, onde a verdadeira comida do dia a dia é servida a preços mais acessíveis.
As duas principais localizações dos lolos ficam no centrinho de Marigot, próximo ao mercado de rua local, e na rua principal de Grand Case. A dica é escolher o lolo que mais lhe apetece, sentar e pedir a cerveja local, a SXM, ou um ponche de frutas para acompanhar as pedidas e curtir o calor.
Os pratos variam de peixes locais grelhados, como mahi mahi, grouper e snapper, assim como ensopado de rabo de boi, caramujos (grelhados ou em bolinhos fritos), salada de lagosta, frango ensopado e preparos com camarões.
Os principais, que custam em média entre 12 e 18 euros, vêm acompanhados de arroz com ervilhas e batatas fritas.
Para uma verdadeira experiência caribenha, peça também o tradicional Johnny Cake, massinha frita achatada que acompanha qualquer refeição, e os acras de morue, que se assemelham a bolinhos de bacalhau fritos e são perfeitos como entradinhas.
Refeições mais requintadas
Para refeições mais refinadas, separe tempo para o jantar: as regiões de Grand Case e Orient Bay concentram alguns dos melhores restaurantes. Mas fique atento aos horários, já que o comércio costuma fechar cedo e os restaurantes funcionam até um pouco mais tarde.
Em Grand Case, tente uma mesa no Le Pressoir, eleito um dos melhores restaurantes do Caribe por publicações locais especializadas. Da cozinha saem pratos bem apresentados da culinária francesa com influências caribenhas.
Já o Ocean 82, no boulevard de Grand Case, é restaurante à beira da água que é boa escolha para celebrações. Entre as pedidas, lagostas saídas direto do tanque da porta de entrada ou ainda panela com peixes e frutos do mar (vieiras, lagosta, mahi mahi e mexilhões) num molho cremoso (€33) figuram entre os destaques.
Pela manhã, bom lugar para tomar café é o Sunset, restaurante do hotel Grand Case Beach Club. Com vistas excepcionais, o restaurante avança no mar, em que as cores ficam lindas principalmente com os raios solares da manhã.
Do cardápio, ovos mexidos e beneditinos, crepes, bagels e croissants se destacam junto de combinações fixas, que variam de €8 a €21 e vêm com bebida quentes, suco, pães, saladas de frutas e combinações de ovos.
Já Orient Bay, que abriga uma das praias mais famosas da ilha, é lar do L’Astrolabe, que tem menu fixo a €56 com direito a entrada ou sopa, prato principal e sobremesa. Apenas às sextas a casa oferece lagosta que entra como prato principal do menu fixo – para a sobremesa, aposte no crepe suzette.
Não muito longe dali, já mais próximo da entrada da praia, fica o Sao, casa arejada com pratos de influências japonesas, vietnamitas e tailandesas. Combinados de sushis, nigiris e rolls são sugestões ao lado de pratos como pad thai (€22 com camarões), curry vermelho com leite de coco e arroz jasmim (€22) e tartare de mahi mahi (€22).
Conhecido como o “mais chique de St. Martin”, considere o La Villa Hibiscus na sua lista. Comandado pelo chef belga Bastian Schenk, com passagem por casas de Joel Robuchon, o restaurante fica no hotel de mesmo nome na área de Mont Vernon e tem uma cozinha aberta para acompanhar a ação dos funcionários.
Eleito o melhor restaurante de St. Martin na categoria de casas refinadas no Festival de la Gastronomie, a casa serve três menus-degustação, que vão de cinco a oito tempos e custam entre €110 e €230. A casa funciona mediante reservas no almoço e jantar entre terça e sábado.
E esteja preparado, pois, independente do restaurante, todas as refeições terminam com um shot de rum.
Festival de la Gastronomie
Vila com barraquinhas de cozinheiros locais em Marigot foi destaque na segunda edição do festival / Saulo Tafarelo
Para aquecer ainda mais seu cenário gastronômico, o lado francês promove há dois anos um festival de gastronomia no mês de novembro, mês que marca o início da alta temporada na ilha.
A segunda edição, entre 11 e 22 de novembro de 2022, viu 60 restaurantes criarem pratos e drinques especiais com um ingrediente comum, a banana-da-terra, que foi escolhida justamente por ser um ingrediente ordinário no dia a dia caribenho a fim de colocá-lo em criações diferenciadas.
Segundo Valérie Damaseau, presidente do escritório de turismo de St. Martin, a última edição foi importante para trazer a verdadeira populacão que entende da culinária da ilha para perto.
“No primeiro ano do festival jogamos luz à culinária da ilha. Mas nesta segunda edição tivemos a oportunidade de destacar nossos homens e mulheres que fazem churrascos, por exemplo”, cita a presidente em relação a esta importante tradição caribenha.
Além da movimentação nos restaurantes, o centro de Marigot inaugurou uma vila com barracas de cozinheiros locais.
Shows, produtinhos regionais, competições e aulas de culinária por chefs internacionais, como o brasileiro Rafael Pires, do MIA Restaurante, em Tiradentes (MG), completaram a experiência. Para 2023, uma terceira edição está confirmada para o mesmo período.
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Praias paradisíacas
É claro que no Caribe as praias são os pontos mais cobiçados pelos turistas – nem é preciso dizer que as areias são brancas, as águas cristalinas e os cenários dignos de filme.
A boa notícia é que as 37 praias de Saint Martin dispersam os turistas, que têm nas mãos várias opções de acordo com o humor do dia. De praias escondidas até nudistas, opções não faltam e, geralmente, não aglomeram muitas pessoas.
Antes de acomodar a cadeira, uma das melhores maneiras de conhecer a ilha e suas águas hipnotizantes é a bordo de uma embarcação privada.
A companhia Pyratz é uma das mais recomendadas em passeios marítimos gourmet a bordo de um catamarã, em que oferece serviços caprichados em alto-mar o dia inteiro com direito a beliscos, drinques, champagne, prato principal e sobremesa.
Por US$1.900 para quatro pessoas (cerca de R$10 mil na atual cotação) é possível navegar ao longo do dia (entre 8h e 17h) com comidas e bebidas alcoólicas inclusas, além de paradinhas estratégicas para mergulhos em praias menos movimentadas, como Long Bay e na ilha desabitada de Tintamarre.
Quando o barco é compartilhado com outras pessoas – até no máximo oito – o mesmo passeio sai por US$ 325 cada (cerca de R$1.700).
A seguir, confira uma seleção de algumas das melhores praias da ilha além da famosa e turística Maho Beach:
Orient Beach: no lado francês, em Orient Bay, a extensa praia é uma das mais famosas. Tem mar calmo e águas superagradáveis, tendo ainda alguns bares com serviços de praia.
Antes era inteira dedicada ao nudismo, mas hoje apenas uma faixa em sua ponta direita garante a prática. Esta porção da areia é uma boa oportunidade para curtir o calor intenso sem roupas – uma placa alerta a forma respeitosa que os turistas devem agir.
Pela manhãzinha é comum ainda avistar pessoas caminhando sem roupas pelas areias. Além disso, um dos poucos resquícios do Furacão Irma ainda residem aqui, com os escombros do hotel Club Orient no canto da praia, que promete ser reerguido em breve.
Long Bay: a grande faixa de areia branca é a pedida ideal para descansos sem incômodos. Uma das praias mais bonitas de todo o território, aqui fica o Belmond La Samana, considerado o único hotel cinco estrelas de toda a ilha.
Se estiver de barco, uma das paradinhas recomendadas é próxima aos rochedos, que garantem mergulhos impressionantes em meio a uma água supertransparente, com visuais bastante pitorescos.
Baie Rouge: a “baía vermelha”, em francês, é um dos pontos mais conhecidos da ilha por ter uma escada colorida para lá de instagramável. Seguindo o padrão, as águas são azul turquesa e há bastante espaço para turistas se acomodarem com cangas e cadeiras.
Île Tintamarre: acessível de barco, esta pequena ilha próxima à Saint Martin é realmente um pedaço do paraíso. Areias brancas e águas translúcidas são encontradas por aqui, uma vez que a ilha é virgem e desabitada.
Catamarãs e barcos particulares atracados se enfileiram em meio às águas, boas para mergulhos, snorkeling e stand-up paddle. É onde não há preocupação: apenas você e um dos cenários mais bonitos do Caribe.
Cupecoy Beach: é uma das praias mais escondidas da ilha. Fica no lado holandês e é formada por faixas de areia muito pequenas com falésias à beira-mar. Geralmente vazios, os pedaços de areia são acessíveis por escadas.
Anse Marcel: não muito popular, é uma pequena praia com marina, hotel e restaurante, em que é mais procurada por quem frequenta tais espaços. De águas calmas, reúne visuais belos e calmaria.
Para finalizar o dia, o pôr do sol no Fort St. Louis é sem comparação, mirante que data de 1789 no topo de Marigot e que, no passado, protegia o local de potenciais invasões. Com vista panorâmica para o entorno, prepare-se para os cliques – e não se esqueça de aproveitar o momento.
*O jornalista viajou a convite do escritório de turismo de St. Martin para a segunda edição do Festival de La Gastronomie.
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